domingo, 9 de março de 2008



Já dizia Fernando Pessoa:

o poeta é um fingidor
finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente




O ato de fingir é menos dolorido do que de ser verdadeiro. Somos humanos numa tentativa de esconder nossa brutalidade instintiva. O que nos faz humano é o falso, não o polegar em pinça. Escrever é uma mentira, serAngélique é uma mentira, as rosas em botão são uma mentira, ou todo meu amor. O amor nem sequer existe, então fingimos que amamos e, vez por outra, fingimos que somos felizes.

Eu já gozei como Sally, já ri pra não perder o amigo, já dormi quando não tinha sono, já fiquei acordada por obrigação, já li até o final por pura birra, já deixei de chorar por orgulho, já bebi pra não me enxergar. E silencio o grito escrevendo, silencio o grito que deveria ecoar e assustar a velhinha que passeia calmamente com o poodle, fingindo que ele é o filho que nunca vem. Eu nem chuto o poodle, que é chato e suja a calçada, porque é necessário fingir-me Pessoa.

O ato de fingir é menos dolorido que ser verdadeiro?