terça-feira, 11 de março de 2008

A Segunda

Era sempre assim (e lhe caía tão bem)
mais bela do que acreditava ser,
mais alta do que acreditava ser,
mais interessante do que acreditava ser.

Não era o caso - e compreendam bem - que se diminuísse ou se julgasse mercadoria de segunda. Pode-se dizer que conhecia demais suas limitações e ilimitações e emprestava às duas um pouco de exagero - mas não desse exagero vulgar ou dramático - um excesso contido e sensato, pouco livresco. Devia se conhecer bem e isso a satisfazia de tal forma que não podia deixar de sorrir molemente, patética, num orgulho leve e etéreo.

Chegava sempre perto demais e preferia imaginar como seria do que viver o que será e - e eu lembro tão bem! - na hora agá estremecia e dava um passo para trás e deixava que fossem na sua frente, principalmente se o mérito fosse o cara de quem ela gostava há um tempão. E nessas se enchia internamente de um pranto feliz que corria como um rio por suas entranhas, arrastando qualquer mácula e dissipando-a de tal forma que flutuava. Guardava bem a situação e gostava dessa condição de zeladora das coisas, das pessoas, uma espécie de anjo que vela a felicidade geral que é a sua própria felicidade porque se sentia todos e cadaum. Ficava externa, protegida e limpa (porque CONCRETIZAR é sujar as mãos e sujeitar o ideal aos limites e carrancas da realidade, desvirtuar o que se ama e o que é motriz).

E lhe caía tão bem porque não era dada ao ato e não sabia como fazer ao certo e nem como manter o que se conquistava e lhe parecia absurda a condição de eleita, de escolhida, de primeira.